Modinha do empregado de banco (Murilo Mendes)

A greve dos bancários está encerrando-se no pais. Então, um poema do surrealista Murilo Mendes

Eu sou triste como um prático de farmácia,
sou quase tão triste como um homem que usa costeletas.
Passo o dia inteiro pensando nuns carinhos de mulher
mas só ouço o tectec das máquinas de escrever.

Lá fora chove e a estátua de Floriano fica linda.
Quantas meninas pela vida afora!
E eu alinhando no papel as fortunas dos outros.
Se eu tivesse estes contos punha a andar
a roda da imaginação nos caminhos do mundo.
E os fregueses do Banco
que não fazem nada com estes contos!
Chocam outros contos para não fazerem nada com eles.

Também se o diretor tivesse a minha imaginação
o Banco já não existiria mais
e eu estaria noutro lugar.

Sobre Ben Hur Rava

Porto-alegrense de nascimento, tenho andado por aí. Sempre volto pela convicção de que aqui é o melhor lugar para se sonhar. Advogado por profissão, vivo o Direito com a crença na lei, mas sobretudo na utopia, nem sempre presente, da Justiça. Professor por vocação, nutro a esperança de que o homem tem jeito, basta educá-lo. Apaixonado por literatura, música e culinária. Colorado, por paixão, porque meu coração é vermelho e do Inter, nada, nada mesmo, vai me separar…
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